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Emissões de metano do setor de energia são 70% maiores que o reportado

As emissões globais de metano do setor de energia são aproximadamente 70% maiores do que a quantidade relatada oficialmente pelos governos nacionais, mostra análise da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) divulgada ontem (23/2).

Segundo a agência, quase todos os inventários nacionais subnotificam suas emissões.

“As emissões atribuídas para bacias, campos e instalações produtoras individuais também são normalmente mais baixas do que as observadas quando os sistemas de monitoramento e medição são implementados”, afirma.

Um dos problemas na medição das emissões de metano é que cada país é livre para usar metodologias diferentes para fazer suas estimativas. Outro, é a coleta de dados baseada em estimativas e equações, não em medições reais.

Responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura global desde a segunda metade do século 18, o metano é um gás de efeito estufa mais poderoso que o dióxido de carbono durante sua vida útil, apesar de se dissipar mais rápido.

O Global Methane Tracker da IEA aponta recuperação de quase 5% das emissões de metano do setor de energia em 2021, após um declínio em 2020 induzido pela pandemia de covid-19.

O setor — que responde por cerca de 40% do metano lançado na atmosfera pela atividade humana — foi responsável pela emissão de quase 135 milhões de toneladas do gás.

Esse aumento foi impulsionado pela maior demanda e produção de combustíveis fósseis à medida que as economias se recuperaram.

O rastreador da IEA também trouxe uma novidade: passou a incluir estimativas país a país para as atividades de carvão e bioenergia, juntamente com as de petróleo e gás.

Das 135 milhões de toneladas de emissões relacionadas à energia, estima-se que:

42 milhões de toneladas são de operações de carvão;
41 Mt de petróleo;
39 Mt de extração, processamento e transporte de gás natural
9 Mt de combustão incompleta de bioenergia (principalmente quando madeira e outra biomassa sólida é usada como combustível de cozinha);
e 4 Mt vazam de equipamentos de uso final.
Com a inclusão do carvão nos cálculos, a China passou a ocupar a primeira posição como maior emissora, com 28 milhões de toneladas. Em seguida vem Rússia (18 Mt) e Estados Unidos (17 Mt).

Desperdício. A agência faz um alerta para o desperdício de vazamento de metano, o principal componente do gás natural, mesmo em um cenário com altos preços do gás.

Se os vazamentos das operações de combustíveis fósseis em 2021 tivessem sido capturados e comercializados, seriam disponibilizados 180 bilhões de metros cúbicos adicionais de gás ao mercado.

“Uma quantidade semelhante a todo o gás usado no setor de energia da Europa. Isso teria sido confortável o suficiente para aliviar as pressões de preços de hoje”, diz o documento.

Cobertura incompleta. Ainda de acordo com o rastreador, no ano passado, foram confirmadas emissões significativas no Texas e em partes da Ásia Central, com o Turcomenistão sozinho responsável por um terço dos grandes eventos de emissões vistos por satélites em 2021.

Enquanto poucos vazamentos importantes foram detectados para os principais produtores de petróleo e gás terrestres no Médio Leste.

O rastreador incorpora as últimas leituras de satélites e outras campanhas de medição baseadas em ciência.

“Embora os dados medidos continuem a melhorar, a cobertura fornecida pelos satélites ainda está longe de ser completa: os satélites existentes não fornecem medições em regiões equatoriais, operações offshore ou áreas do norte, como as principais áreas produtoras de petróleo e gás da Rússia”, explica.

Abismo entre países. A intensidade das emissões das operações com combustíveis fósseis varia muito: os países e empresas com melhor desempenho são mais de 100 vezes melhores que os piores.

A Noruega, por exemplo, tem a intensidade mais baixa do mundo — e se todos os países produtores de petróleo e gás se igualarem a ela, representaria um corte de 90% nas emissões do setor energético.

“O Global Methane Pledge, lançado em novembro por mais de 110 países na COP26 em Glasgow, marcou um importante passo adiante. No entanto, mais grandes emissores precisam participar”.

Liderado pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o grupo concorda em reduzir as emissões de atividades como agricultura e energia, entre outras, em 30% até 2030 — o que também é considerado insuficiente.

Dos cinco países com as maiores emissões de metano de seus setores de energia — China, Rússia, Estados Unidos, Irã e Índia — apenas os Estados Unidos fazem parte do compromisso.

O Canadá quer ir além: estabeleceu meta de reduzir as emissões de metano em pelo menos 75% abaixo dos níveis de 2012 até 2030, e regulamentações para ajudar a atingir essa meta.

O país está mobilizando as províncias, indígenas, indústria e mão de obra para colocar os trabalhadores “na frente e no centro do esforço”, conta o ministro de Recursos Naturais, Jonathan Wilkinson.

Por aqui, o governo brasileiro prometeu para março o lançamento de um programa de incentivo à produção nacional de biometano, como parte da estratégia para reduzir emissões.

Segundo o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o programa Metano Zero virá por meio de decreto e estimulará o financiamento de grandes bancos.

Por falar em biometano… O governo do estado do Rio de Janeiro encaminhou ontem (23/2), à Assembleia Legislativa, um projeto de lei para reduzir a base de cálculo do ICMS nas operações envolvendo biogás e biometano.

Segundo publicação do Diário Oficial do estado, a proposta é aplicar um percentual de 12% sobre o valor da operação.

Fonte
epbr
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