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Frágil economia do Iraque ameaça acordo de produção da Opep

De seu escritório no terceiro andar no leste de Bagdá, o ministro do Petróleo iraquiano, Ihsan Abdul Jabbar, pode ver os manifestantes barulhentos enquanto marcham em direção à Praça Tahrir, o centro simbólico dos mais recentes protestos no Iraque.

No domingo, milhares de iraquianos novamente se reuniram com bandeiras nacionais na praça, com vista para a Zona Verde, onde os EUA têm sua embaixada.

A lista de queixas era longa: políticos corruptos, cortes de energia diários, hospitais dilapidados, estradas em ruínas e falta de empregos. “Queremos nosso país de volta!”, gritavam.

O Iraque pode ser o terceiro maior exportador de petróleo do mundo, mas a economia afunda depois que a pandemia de coronavírus minou a demanda global por energia e causou o colapso dos preços.

As finanças do estado estão tão precárias que não é possível pagar professores e funcionários públicos em dia, o que ameaça repetir a turbulência que derrubou o governo no ano passado e causou a morte de centenas de manifestantes.

Isso cria um dilema para Abdul Jabbar, de 46 anos, engenheiro químico que fez carreira no setor de petróleo, que agora está preso entre as demandas de uma população furiosa e as promessas feitas aos aliados da Opep.

O cartel de exportadores de petróleo tenta impulsionar um mercado frágil segurando a oferta e precisa de grandes produtores como o Iraque para manter a linha.

Para o Iraque, restringir o fornecimento acarreta um enorme custo econômico e político. Mas romper o acordo também é arriscado: pode significar preços mais baixos para todos.

Alguns iraquianos querem que o governo os coloque em primeiro lugar simplesmente bombeando mais petróleo, medida que pode minar o acordo de produção perfeitamente calibrado.

Se um produtor tão importante como o Iraque desrespeitar o pacto, seria difícil impedir parceiros menores de fazer o mesmo.

O Iraque e outros membros do Opep+, que reúne a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e nações como a Rússia, fecharam um pacto em abril.

Com isso, Bagdá teve que reduzir a produção diária em cerca de 1 milhão de barris – no valor de cerca de US$ 40 milhões – para 3,6 milhões.

A ideia era que os cortes de oferta aumentassem os preços do petróleo o suficiente para compensar as exportações perdidas.

Embora os preços tenham mais do que dobrado desde que o acordo foi fechado, para US$ 40 o barril, ainda acumulam queda de quase 40% neste ano, definhando em níveis muito abaixo do que o Iraque precisa para financiar seu orçamento. A receita mensal do governo, de US$ 3 bilhões, é menos da metade do que era no ano passado.

O Iraque já violou seu limite de produção em várias ocasiões e irritou os líderes de fato da Opep, a Arábia Saudita e a Rússia. O perigo para eles é que Bagdá comece a injetar ainda mais barris no mercado para conseguir cada dólar que puder.

Autoridades iraquianas disseram repetidamente que estão comprometidas com o acordo e vão compensar o excesso de produção. Mas, após violações anteriores, traders observam atentamente sinais de que o país ultrapassará o limite novamente.

“Será cada vez mais difícil para a Opep+ manter a disciplina à medida que os países, especialmente o Iraque, ficam mais desesperados”, disse Tarek Fadlallah, diretor-presidente da unidade do Oriente Médio da Nomura Asset Management.

Fonte
Money Times
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