Mercado

Escoamento do milho pode ser prejudicado por alta do diesel e falta de caminhoneiros

O aumento do preço do óleo diesel, o custo do frete e a redução no número de caminhoneiros podem influenciar negativamente no escoamento da produção do milho segunda safra.

Em um ano, o preço do litro do diesel subiu R$ 2,85 em Mato Grosso do Sul. Segundo a pesquisa semanal de preço da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana terminada no sábado (9), o litro do combustível atingiu média de R$ 7,33 no Estado.

Esse valor está 63,61% acima do cobrado há um ano, na semana entre 4 e 10 de julho de 2021, quando o diesel era comercializado a R$ 4,48.

O preço do frete é influenciado em 40% pelo custo do diesel e, com as altas seguidas do combustível, essa variável está atingindo até 60% e podendo chegar a 70%, dependendo das condições de compra.

Com a alta nos preços, o que preocupa o setor produtivo estadual agora é mais um aumento no preço de custo. Conforme noticiado na edição de 28 de abril do Correio do Estado, o preço do frete subiu 43,5% em algumas rotas do Estado no período de três meses para o escoamento da safra de soja.

No mês seguinte, os preços voltaram a cair, e em maio já era possível notar queda de 35% no preço praticado, por conta da baixa demanda pelo serviço. O preço do barril de petróleo Brent, o mais comercializado no mercado internacional, teve alta de 41,50% no mesmo período. Isso porque, no último mês, a commodity caiu 10,55%, com temores de recessão da economia global.

PROFISSIONAIS
Com essa alta vertiginosa do preço do combustível e com a variação grande no preço praticado no frete, alguns profissionais deixaram o mercado.

Segundo números do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Mato Grosso do Sul (Sindicam-MS), MS tinha 19 mil caminhoneiros autônomos cadastrados na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) até 2020. Com a pandemia e as altas do diesel no último ano, o número caiu para 17 mil.

Osni Belinati, presidente do Sindicam-MS, acredita que deve faltar motoristas para fazer o transporte da segunda safra. “Porque temos poucos caminhões pequenos para transportar. A maioria está muito endividada e não tem como continuar trabalhando. Temos caminhões da década de 1950 rodando, e o governo não faz nada para ajudar a financiar uma frota nova”.

Ele comenta que tudo depende das condições climáticas do período de colheita. “Dependendo do tempo, se estiver bom, não deve atrapalhar muito, mas se chover, o bitrem não consegue entrar no meio da colheita”.

Belinati diz que muitos caminhoneiros têm registrado prejuízos, e isso desestimula a classe. “As dificuldades são muito grandes. Agora tem o voucher do governo e tem gente que pensa que é um dinheirão, mas não troca nem um pneu”, completa.

Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindicargas-MS), Gilmar Ribeiro, a alta força profissionais a pararem, e a pressão também existe sobre as pequenas e médias transportadoras.

“Com a alta do combustível, o transportador é prejudicado, e atreladas ao valor do frete estão despesas de folha, manutenção, diesel, altas de produtos e de insumos. O transportador que tiver condição vai parar o caminhão se estiver perdendo dinheiro, e isso faz as empresas demitirem”, detalha Ribeiro.

RUMOS
De acordo com o agrônomo e consultor João Pedro Dias, esse gasto ainda é um problema para o produtor rural, mas gradativamente a logística está mudando em Mato Grosso do Sul.

“Tínhamos 80% de transporte por via rodoviária, era uma infinidade de carretas indo até os portos. Hoje isso está mudando. Os caminhões vão até um terminal hidroviário e descarregam ali, e esse milho vai até um porto e é levado por navios para o mercado exterior”, explica.

Para o consultor, é preciso que a diversificação da logística de escoamento da produção seja cada vez mais incentivada, para diminuir a dependência do transporte rodoviário.

“Atualmente, o Porto de Santos é o grande exportador de grãos, por exemplo, porque a ferrovia leva até lá. Portanto, a grande questão para o futuro é incentivar ferrovias e hidrovias para aumentar e investir na malha. Isso sim é progresso, agilidade e garantia para empresa e produtores”, finaliza.

Apesar de não ser um modal diferente, a implantação do Corredor Bioceânico nos próximos anos pode diminuir o custo do frete para exportação em até 12%, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de MS (Setlog-MS). A rota vai ligar os oceanos Pacífico e Atlântico, percorrendo quatro países: Brasil, Argentina, Paraguai e Chile.

SAFRA
Os preços dos fretes devem encarecer conforme o avanço da colheita do cereal. Até o dia 8 de julho, a colheita do milho 2ª safra 2021/2022 atingiu 9% da área total produzida no Estado (ou 179.280 hectares), de acordo com o boletim da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MS).

Entre as regiões, a colheita mais avançada é a do norte de MS, que já retirou 28,6% da produção dos campos.

Na sequência, a região central de Mato Grosso do Sul atingiu 12,1% do território semeado, e a região sul registra 4,4% do total colhido.

A estimativa de área para o milho 2ª safra é de 1,992 milhão de hectares, retração de 12,6% em relação à área destinada ao cereal na safra passada. A produtividade estimada é de 78,13 sacas por hectare, gerando uma expectativa de produção de 9,34 milhões de toneladas. (Colaborou Súzan Benites)

Fonte
CorreiodoEstado
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