Diesel Economics entrevista a Acelen, proprietária da Refinaria de Mataripe, na Bahia, e fala sobre grandes investimentos no Brasil e o mercado de diesel

Diante da importância da Acelen, na Bahia, para o cenário de energia no Brasil, realizamos uma entrevista exclusiva com a refinaria.

Como a Acelen enxerga sua importância para o setor de combustíveis na sua região e quais são os principais desafios para os próximos meses?
A Acelen chegou para evoluir o cenário brasileiro de energia, através de investimentos, elevação da eficiência e aumento da produtividade. Tudo isto associado à geração de oportunidades, respeito às pessoas e ao meio ambiente e excelência operacional.
A aquisição da Refinaria de Mataripe, seu primeiro ativo, traz oportunidades de crescimento para as cidades do entorno e desenvolvimento para toda a Bahia, a partir de investimentos em segurança e melhorias operacionais, ações sociais e de preservação ambiental, incentivo à formação e qualificação profissionais e geração de emprego e renda. É ainda a principal fonte de ICMS do Estado.
Quanto mais a Acelen aumenta a capacidade produtiva da refinaria e diversifica sua linha de produção, mais se consolida como a empresa que nasceu para evoluir e se tornar referência em excelência energética com foco no mercado local e na criação de valor de forma sustentável para nossas comunidades, acionistas, clientes e colaboradores.
Tem sido uma jornada de muitos desafios e, principalmente, de grandes avanços, contando com um time alinhado nos objetivos de ampliar a eficiência operacional, com agilidade e segurança nas tomadas de decisão e investimentos. Com este empenho, nos primeiros meses, já aumentamos em quase 20% a produção média da refinaria, com segurança e eficiência.
No início deste ano, tivemos um marco importantíssimo para a Acelen e para a refinaria, que foi o recorde de produção de diesel S10, produto que ainda é importado no país. Saltamos de 200 mil para 240 mil m³ por mês e estamos iniciando estudos para avaliar aumento de mais 15% a 20% da capacidade máxima de produção. Hoje, representamos cerca de 9% do abastecimento nacional de gasolina e diesel.
A Refinaria de Mataripe, recém vendida pela Petrobras, tem capacidade para processar mais de 300 mil barris de petróleo por dia, correspondendo a cerca de 14% da capacidade total de refino do país. Existem planos para aumento da capacidade de produção ou mudança no portifólio de produtos refinados?
Correspondemos a 15% da capacidade de refino do país, e nosso objetivo é seguir ampliando, tanto a capacidade, quanto o portfólio. Já fizemos investimentos significativos de modernização desde que adquirimos a Refinaria de Mataripe, uma planta de 70 anos, e os ativos logísticos de Madre de Deus, Jequié e Itabuna. São melhorias em segurança, sistemas, operações, serviços e equipamentos para alcançar os mais altos níveis de excelência e aumentar a competitividade nacional e internacional da refinaria.
Para acelerarmos esse processo, investimos R$500 milhões na execução do plano de Paradas Programadas de Manutenção (PPM), iniciado em abril de 2022, com cronograma de doze meses corridos e contemplando 11 das 26 unidades existentes na refinaria. O objetivo é ampliar os níveis operacionais de 65% em 2021 para mais de 97% da capacidade instalada após a modernização.
Com esse plano em execução e relacionamento estreito com nossos clientes, vamos não só ampliar a capacidade produtiva, como nosso portfólio de produtos, o que já vem acontecendo. Um exemplo recente foi o lançamento do propano especial para aerossóis, que foi produzido pela primeira em Mataripe e vem sendo vendido desde abril para fabricantes de cosméticos e outros segmentos no mercado brasileiro. A Acelen já atende 15% deste mercado de propano, considerado de nicho no Brasil.
Também aumentamos a fatia no mercado nacional de lubrificantes, saltando de 7 para 11% do total de vendas. Na comercialização de parafina, tivemos aumento de 200% desde dezembro e hoje somos o maior produtor da América Latina, o segundo no mundo, com capacidade de 85 mil toneladas/ano.
Outro grande objetivo é trabalhar com eficiência energética. Já temos um ganho expressivo na área de meio ambiente, que é um dos propósitos primordiais da empresa. Dos R$500 milhões de investimento nas PPMs, R$60 milhões são destinados a equipamentos de preservação ambiental. Uma das unidades, por exemplo, receberá um precipitador eletrostático que reduzirá, consideravelmente, a emissão de particulados.

Quais os gargalos/dificuldades para processamento de petróleo no Brasil?
Precificar os produtos oriundos do refino, de forma justa, é um grande desafio. Consideramos que o preço a ser aplicado no mercado brasileiro de diesel e gasolina deve mirar a paridade internacional com regras claras e transparentes de precificação, preservando a sustentabilidade dos negócios e a competição saudável entre os atores.
Qualquer lógica diferente desta impõe insegurança na cadeia de abastecimento com risco ao suprimento regular de combustível no país, comprometendo ainda o processo de privatização das refinarias. Privatizar traz oportunidades de investimento privado, moderniza o setor, amplia oferta e concorrência. Porém, para isso acontecer, o mercado precisa se mostrar atrativo.
Com a guerra entre Rússia e Ucrânia movimentando o mercado em geral, vemos que a Acelen vem praticando reajustes periódicos para os combustíveis que comercializa. Na visão de vocês, o que poderia melhorar essa situação futuramente e o que a Acelen pretende fazer para contribuir para o cenário nacional?
Vivenciamos um mercado com muita volatilidade e grande pressão sobre o preço das commodities. Em curto prazo, ainda enxergamos o preço do petróleo em patamares elevados, o que mantém os preços de gasolina e diesel nos níveis atuais.
Nossos contratos, baseados em fórmulas paramétricas e transparência de preços, contribuem para que o setor tenha previsibilidade, sustentabilidade e garantia de abastecimento.
Temos mantido também constante diálogo com representantes do setor para alcançar soluções que sejam boas para o mercado e toda a sociedade, sem comprometer o abastecimento e o interesse de investidores na privatização de mais refinarias brasileiras.
Quais são as principais demandas de combustível na região em que a Acelen atende e existem perspectivas de mudança para os próximos meses?
O diesel S10 e a gasolina são, certamente, os mais vendidos, equivalentes a 40% das vendas de todos os produtos da refinaria. O diesel S500 e o querosene de aviação também têm grande procura dos nossos clientes, os distribuidores.
Com a migração de diesel americano para a Europa, há preocupações sobre o desabastecimento de diesel no Brasil. Qual é a visão da Acelen diante desse cenário e qual é a perspectiva futura mediante o cenário de guerra?
As sanções à Rússia também trazem um impacto na importação, especialmente de diesel. A produção já havia caído no mundo durante a pandemia, algumas refinarias fecharam nesse período e a guerra acentuou a redução da oferta global.
Como alternativa, buscamos parceiros comerciais em outros países e aumentamos a produção, alcançando recordes de produção do diesel que suprem a rede atendida pela Acelen, mas o mercado ainda precisa importar. O principal obstáculo está no preço dos combustíveis praticado no Brasil, que é menor do que o praticado no exterior. Não tem sido atrativo importar petróleo ou derivados a preços mais altos para vender aqui mais barato.
Mas, no que depender dos níveis operacionais e planejamento da Refinaria de Mataripe, o abastecimento de diesel segue regularmente aos clientes da Acelen.
Um dos problemas do escoamento de combustíveis no Brasil é a infraestrutura logística, como frota de caminhões, rodovias e dutos. Há algum tipo de investimento pela Acelen para melhoria dessa situação em sua região de atuação? Se sim, quais?
A infraestrutura logística no Brasil apresenta, realmente, alguns entraves, sejam no escoamento rodoviário, na malha ferroviária ou no modal aquaviário. No entanto, os investimentos feitos pela Acelen visam também o aumento da eficiência logística, o que inclui recebimento e escoamento de petróleo e derivados via Terminal de Madre de Deus. A empresa também opera uma malha de dutos para atendimento ao mercado do Sul da Bahia.